Quem foram os fariseus? Entenda quem eram, o que acreditavam e por que Jesus os confrontou

Compartilhe este artigo:

A palavra “fariseu” ainda hoje provoca reações fortes, para alguns, evoca religiosidade vazia; para outros, respeito pela fidelidade à Lei. Mas quem foram realmente os fariseus no contexto bíblico?

Neste artigo, vamos analisar quem foram os fariseus, suas origens, crenças e práticas, como se relacionaram com Jesus e o que o Novo Testamento realmente nos ensina sobre eles. Vou também apontar lições práticas para a vida cristã hoje.

1. Contexto histórico: quando e onde surgiram os fariseus

Os fariseus surgiram no contexto do Período do Segundo Templo (aprox. 516 a.C. – 70 d.C.), num Judaísmo plural: havia fariseus, saduceus, essênios e outros grupos. Eles se destacaram como um movimento influente entre o povo comum, especialmente nas sinagogas e na vida religiosa quotidiana, e não simplesmente como uma elite sacerdotal. Embora a origem exata seja tema acadêmico, o Novo Testamento os apresenta como interlocutores constantes de Jesus (evangelhos) e como uma força religiosa com forte ênfase na interpretação da Lei de Moisés.

2. O que os fariseus acreditavam e praticavam? (crenças centrais)

a. Autoridade da Torá e respeito pela tradição

Os fariseus afirmavam a autoridade da Lei (Torá). Além disso, valorizavam tradições interpretativas (o que mais tarde viria a ser associado à “Lei Oral”) que ajudavam a aplicar a Lei aos detalhes da vida diária (Mateus 15; Marcos 7).

b. Pureza ritual e observância prática

Higiene ritual, práticas de pureza, observância do sábado e regras sobre alimentos e dízimos eram aspectos centrais para a vida religiosa farisaica (Marcos 2:23Marcos 3:6; Mateus 23:23).

c. Crença na ressurreição e na vida futura

Ao contrário dos saduceus, os fariseus acreditavam na ressurreição dos mortos e em recompensas futuras (Atos 23:6; Mateus 22:23-33), o que influenciou sua visão de justiça e esperança escatológica.

d. Relação entre lei e piedade pessoal

Para os fariseus, a prática religiosa, observância das prescrições, oração, generosidade, era expressão de fidelidade a Deus. Eles buscavam que a vida do crente fosse marcada por conformidade com o que consideravam a vontade divina.

3. Fariseus e Jesus: confrontos, diálogos e exemplos positivos

O relacionamento entre Jesus e os fariseus foi complexo, houve confrontos severos, mas também interações mais nuançadas.

a. Críticas públicas de Jesus

Jesus criticou fariseus por certas atitudes: hipocrisia, avidez de aparente honra, sobrecarga do povo com regras pesadas e valorização da forma em detrimento do coração (Mateus 23). Estas críticas visavam práticas distorcidas da religião, não uma rejeição indiscriminada de toda a tradição farisaica.

b. Pasta de equívocos: nem todos os fariseus eram iguais

Os evangelhos também registram fariseus que dialogaram honestamente ou que foram alvo de elogio indireto. Exemplos: Nicodemos (João 3), um fariseu que dialogou com Jesus em busca de entendimento; Paulo (Saulo), que era fariseu e depois tornou-se apóstolo; e alguns fariseus que trataram os discípulos com menos hostilidade do que outros líderes (Atos 15 registra fariseus entre crentes).

c. Paradoxo teológico

Jesus condenava o legalismo e a religiosidade hipócrita; ao mesmo tempo, Ele reconhecia o valor da Lei quando vivida de modo que refletisse misericórdia, justiça e fé (Mateus 23:23; Lucas 11:42). O confronto foi mais contra deformações da prática religiosa do que contra a busca sincera de santidade.

4. Fariseus x Saduceus x outros grupos — por que isso importa?

Compreender os fariseus exige colocá-los ao lado de outros grupos do judaísmo do tempo de Jesus:

Saduceus: geralmente associados ao sacerdócio e ao templo; rejeitavam a ressurreição (Atos 23).

Essênios: grupo mais separatista (ex.: Qumran).

Fariseus: mais populares, centrados na sinagoga, interpretação da Lei e vida comunitária.

Essa diversidade mostra que o judaísmo do primeiro século não era monolítico; os debates entre esses grupos moldaram o cenário em que o Evangelho foi proclamado.

5. Legado histórico: dos fariseus aos rabinos

Após a destruição do Templo (70 d.C.), muitas práticas sacerdotais deixaram de ser centrais; a tradição farisaica (ênfase na Lei aplicada na vida diária e nas sinagogas) evoluiu para o que conhecemos como Judaísmo rabínico. Esse legado mostra que, apesar das falhas identificadas no NT, o movimento farisaico desempenhou papel central na preservação e transmissão da fé judaica.

6. Lições práticas para o cristão hoje

Cuidado com a hipocrisia religiosa: A chamada de Jesus aos fariseus é um alerta: a religiosidade pode ser superficial se não transformar o coração (Mateus 23).

Valorizar a fidelidade e o estudo das Escrituras: Assim como os fariseus dedicaram-se a interpretar a Lei, o cristão deve estudar a Bíblia e aplicar a Palavra com sabedoria.

Equilibrar lei e graça: Jesus combateu o legalismo sem desprezar a Lei moral de Deus, pois o equilíbrio importa: verdade e amor, justiça e misericórdia.

Humildade na correção: Ao confrontar erros, o cristão deve agir com mansidão e compaixão, não com ostentação de superioridade (1 Coríntios 13; Gálatas 6:1).

7. Onde ler na Bíblia (passagens-chave)

Mateus 23 — os “ais” contra os fariseus (críticas de Jesus).

Lucas 18:9–14 — a parábola do fariseu e do publicano (lição sobre humildade).

João 3 — Nicodemos, fariseu que busca Jesus.

Marcos 7 / Mateus 15 — debates sobre tradição e pureza.

Atos 23:6 / Filipenses 3:5 — fariseus no Novo Testamento (Paulo e conflitos).

Conclusão

Os fariseus foram um movimento religioso decisivo no judaísmo do tempo de Jesus: dedicados à Lei, preocupados com a pureza e influentes entre o povo. O Novo Testamento os apresenta tanto em confronto com Jesus quanto como pessoas complexas, alguns confundidos e legalistas, outros sinceros e abertos ao encontro com Cristo. A mensagem central para nós hoje é dupla: aprender com a busca deles por fidelidade e atentar ao aviso de Jesus contra a religiosidade vazia. O desafio do cristão é viver uma fé que una ortodoxia (verdade) e ortopraxia (prática), coração transformado que gera justiça, misericórdia e humildade.