Qual o significado espiritual do dízimo hoje? O que a Bíblia realmente diz?
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O dízimo é um tema que gera perguntas fortes entre cristãos: é obrigação legal ou princípio espiritual? Deve ser 10% do salário ou outra proporção? Como entender o dízimo à luz do Velho e do Novo Testamento?
Neste artigo, vamos explicar o que a Bíblia realmente diz sobre o dízimo, mostrar sua origem histórica, como foi praticado no Antigo Testamento, o que mudou no Novo Testamento e oferecer orientações práticas e equilibradas para a aplicação do dízimo hoje.
O que é dízimo? definição e conceito bíblico
Etimologicamente, “dízimo” significa “a décima parte”, ou seja, a fração de 10% sobre o fruto da terra, do rebanho ou do ganho. Biblicamente, o dízimo aparece como uma prática de devolver a Deus “a décima parte” da produção ou do rendimento, em reconhecimento de que toda bênção vem d’Ele. Na prática, era um sistema integrado à vida econômica e religiosa de Israel, com finalidades públicas e espirituais.
Origem e propósito no Antigo Testamento
No Antigo Testamento encontramos referências chave que mostram como e por que o dízimo existia:
Há um registro em que Abraão dá o dízimo a Melquisedeque (Gênesis 14:18,20), gesto visto como reconhecimento do sacerdócio e do favor divino.
18 ומלכי־צדק מלך שלם הוציא לחם ויין והוא כהן לאל עליון׃
20 וברוך אל עליון אשר־מגן צריך בידך ויתן־לו מעשר מכל׃
Jacó promete dar a Deus “um dízimo” das bênçãos que receber (Gênesis 28:20,22), indicando a prática já existente na mentalidade patriarcal.
20 וידר יעקב נדר לאמר אם־יהיה אלהים עמדי ושמרני בדרך הזה אשר אנכי הולך ונתן־לי לחם לאכל ובגד ללבש׃
22 והאבן הזאת אשר־שמתי מצבה יהיה בית אלהים וכל אשר תתן־לי עשר אעשרנו לך׃
A legislação mosaica sistematizou o dízimo: parte do que o agricultor recolhia era destinada ao sustento dos levitas, ao culto, às festas religiosas e ao atendimento dos pobres, órfãos e estrangeiros (ciclos de dízimos descritos em Levítico, Números e Deuteronômio; ver, por exemplo, Deuteronômio 14:22,29 e Deuteronômio 26:12,15).
O profeta Malaquias denuncia negligência no dízimo e convida o povo a “trazer o dízimo ao celeiro”, em associação com bênção e confiança em Deus (Malaquias 3:10,8).
Propósitos principais no AT: sustento do culto e sacerdócio (levitas), celebração comunitária (festas e peregrinações), apoio social (viúvas, órfãos, estrangeiros) e expressão de reconhecimento e fidelidade a Deus.
O dízimo entre a lei e a identidade nacional de Israel
No contexto teocrático israelita, o dízimo fazia parte da aliança: era um mecanismo que integrava religião, economia e identidade nacional. Diferente de um imposto moderno, tinha também caráter simbólico, lembrava que a terra e a prosperidade pertencem a Deus. Por isso, o dízimo era tanto prático (sustento de ministério e justiça social) quanto formativo (disciplina de gratidão e confiança).
O dízimo no Novo Testamento: continuidade, crítica e ênfase na generosidade
No Novo Testamento a palavra “dízimo” aparece, mas o foco do ensino de Jesus e dos apóstolos desloca-se para a lógica do coração e da generosidade livre, embora não anule por completo princípios do AT.
Jesus menciona o dízimo ao confrontar líderes religiosos hipócritas: Ele critica a omissão da justiça e da misericórdia mesmo por quem era rigoroso em repassar o dízimo (Mateus 23:23; Lucas 11:42). A sua crítica valoriza: não desprezar o dízimo, mas priorizar justiça, fé e compaixão.
O autor de Hebreus usa Melquisedeque (que recebeu dízimo de Abraão) para falar da singularidade do sacerdócio de Cristo (Hebreus 7). A interpretação neotestamentária aprofunda o tema sacerdotal, apontando para Cristo como superior.
Paulo e os demais escritos apostólicos não repelem o cuidado com o sustento do ministério; ao contrário, defendem o direito de quem trabalha no evangelho ser sustentado (1 Coríntios 9:13,14). Entretanto, Paulo enfatiza oferta proporcional, voluntária e alegre, não um imposto legal (2 Coríntios 8:0,9; Gálatas 6:6).
Resumo do NT: não encontramos um mandamento claro que reestabeleça a lei do dízimo para a igreja cristã como norma legal. Em vez disso, surge um padrão de generosidade proporcional e voluntária, caracterizado pela alegria, partilha e apoio mútuo.
Três posições teológicas comuns hoje
Dízimo obrigatório (continuidade): muitas tradições evangélicas e pentecostais entendem que o princípio do dízimo (10%) continua vigente; veem-no como um padrão mínimo de fidelidade e sustentação ministerial.
Dízimo como referência histórica; ênfase na generosidade: outras igrejas ensinam que o dízimo foi instituição do Antigo Testamento, mas que o Novo Testamento amplia o princípio para a generosidade livre, incentivando doações proporcionais ao rendimento e motivadas pelo amor.
Dízimo não obrigatório; oferta voluntária como norma: alguns setores teológicos afirmam que não há prescrição do NT exigindo 10%; a ênfase está na disposição do coração, na administração responsável e no cuidado com necessitados.
Cada posição tem argumentos bíblicos e pastorais, o que importa é que o ensino seja claro, bíblico e pastoralmente responsável.
Como entender e praticar o dízimo?
Se você está buscando aplicar os princípios bíblicos com coerência, considere estes pontos práticos:
Entenda o princípio antes da fórmula: o objetivo bíblico é formar corações que confiam e partilham, não apenas cumprir aritmética.
Comece com disciplina espiritual: muitos cristãos usam 10% como ponto de partida (dízimo) e acrescentam ofertas como expressão de generosidade. Outros preferem estabelecer uma proporção livre, crescente e consistente.
Priorize o cuidado com a família: a Bíblia também chama à responsabilidade familiar; dar não pode negligenciar o sustento dos dependentes (1 Timóteo 5:8).
Apoie missões, ministério local e ações sociais: destinação equilibrada fortalece igreja, missões e assistência a pobres.
Planeje e seja transparente: pratique o dízimo/oferta por meio de orçamento, registro e diálogo com líderes; igrejas devem prestar contas.
Se estiver em dificuldade financeira: a generosidade não se mede apenas por percentual, mas por sacrifício e intenção; em tempos de crise, comunique sua igreja e peça aconselhamento.
O fruto espiritual de uma prática correta
Quando o dízimo e as ofertas são ensinados com equilíbrio, fruto frequente é: confiança em Deus, comunhão mais profunda, capacidade de ajudar os necessitados e sustento do trabalho missionário. Generosidade forma caráter, ela molda o cristão para viver conforme o evangelho, não conforme a lógica do mercado.
Perguntas frequentes (FAQ)
O dízimo é um mandamento para os cristãos? Não há um comando explícito no Novo Testamento que imponha 10% como lei para a igreja. Há, contudo, princípios claros de sustento do ministério e de generosidade proporcional.
Devo dar 10% do salário bruto ou líquido? A Bíblia não regula essa conta. Prática comum: alguns calculam sobre o bruto, outros sobre o que efetivamente recebem; o mais importante é a intenção e a fidelidade.
Posso destinar o dízimo para ações sociais ou apenas para a igreja local? Historicamente o dízimo sustentava o culto, os levitas e o cuidado social. Hoje é legítimo aplicar recursos à igreja, missões e obras de misericórdia conforme convicção e necessidades locais.
E se eu discordar da postura da minha igreja quanto ao uso dos recursos? Procure diálogo, transparência e, se necessário, contribua a projetos confiáveis (bancos de alimentos, missões, ministérios reconhecidos). Evite decisões impulsivas; busque orientação pastoral.
Conclusão
O significado do dízimo na Bíblia transita entre um instituto litúrgico social do Antigo Testamento e um princípio de generosidade e sustentação do ministério no Novo Testamento. Hoje, a postura mais bíblica e pastoral parece ser esta: reconhecer a dignidade do dízimo histórico (10% como referência), acolher a ênfase neotestamentária na generosidade voluntária, proporcional e alegre, e desenvolver práticas comunitárias que unam transparência, cuidado social e formação espiritual. Em última instância, o dízimo, quando bem entendido, revela confiança em Deus, amor ao próximo e compromisso com a missão da igreja.
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