Entenda o termo “ungido”: o que significa "unção" no Antigo e no Novo Testamento?

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A palavra unção aparece com força nas Escrituras e tem significado teológico, simbólico e prático para a vida cristã. Desde o Antigo Testamento, quando reis e sacerdotes eram ungidos com óleo, até o Novo Testamento, que revela Jesus como o Ungido (Messias/Cristo) e fala da unção do Espírito Santo, o termo reúne ideias de consagração, eleição e capacitação divina.

Neste artigo, vamos explicar o que a unção significa biblicamente, comparar usos no Antigo e no Novo Testamento e oferecer orientações práticas e pastorais sobre como compreender e viver essa realidade hoje.

O que a palavra “unção” significa (origem e termos)?

1. No hebraico, o verbo principal é māšach (משח), que significa “untar” ou “ungir”; o substantivo é māšîaḥ (מָשִׁיחַ) — daí vem messias, “o ungido”.

2. No grego do Novo Testamento, os termos são chrio (χρίω) “untar” e chrisma (χρῖσμα) “unção”; Christos (Χριστός) é “o ungido” — tradução de mashiach.

3. A unção envolvia o uso de óleo como símbolo visível da ação invisível de Deus: presença, escolha e poder.

Unção no Antigo Testamento: funções e exemplos

No Antigo Testamento a unção tinha usos institucionais e simbólicos claros:

Consagração sacerdotal: Deus ordenou a unção de Arão e seus filhos para o serviço sacerdotal (Êxodo 28:0,29; Levítico 8). O óleo os separava para o culto.

Ungir reis: Samuel unge Saul (1 Samuel 10) e depois Davi (1 Samuel 16) — a unção identifica o rei escolhido por Deus e sela sua autoridade para governar.

Unção de profetas e objetos sagrados: objetos do tabernáculo e profetas por vezes são ungidos, marcando-os para serviço sagrado.

Exceções notáveis: Em Isaías 45:1 Deus chama Ciro de “ungido” (mashiach) por usar um governante pagão para cumprir Seus propósitos, mostrando que “unção” pode apontar para missão divina além do Israel institucional.

Funções principais no AT: consagrar (separar para Deus), legitimar (autoridade reconhecida) e prover para o ministério (sustento e representação comunitária).

O simbolismo do óleo

O óleo no AT tinha associações práticas e simbólicas: cura, alegria, hospitalidade e presença divina. Salmos 23:5 usa a imagem do óleo como símbolo de bênção: “ungiste a minha cabeça com óleo; o meu cálice transborda.” O óleo é sinal visível de um favor invisível: a presença e aprovação de Deus.

Transição para o Novo Testamento: Jesus como o Ungido

No Novo Testamento a palavra “ungido” alcança seu cumprimento em Jesus:

Messias/Christos: Jesus é reconhecido como o Ungido, ou seja, o cumprimento das expectativas messiânicas do AT.

Unção do Espírito: Lucas 4:18 cita Isaías 61:1 quando Jesus afirma que o Espírito do Senhor O ungiu para pregar boas novas, curar e libertar. Atos 10:38 resume: “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder.”

Aqui a unção é menos um ritual com óleo e mais a capacidade conferida pelo Espírito: missão, autoridade para libertar e autoridade reveladora.

Unção no Novo Testamento: dimensões teológicas e práticas

No NT a unção aparece em diferentes sentidos complementares:

Unção messiânica em Cristo: Jesus é o Ungido por excelência, servo sofredor, Rei e Sacerdote (cf. Hebreus).

Outorga do Espírito: a unção frequentemente descreve o derramar do Espírito Santo que capacita para ministério (ex.: Pentecostes, Atos 2; dons espirituais em 1 Coríntios).

Unção de crentes: 1 João 2:20,27 fala de “unção” recebida dos que são santos, entendida como ensino e discernimento do Espírito.

Prática pastoral: Tiago 5:14 recomenda ungir os enfermos com óleo em oração para cura, sendo uma demonstração sacramental da oração e fé da comunidade.

Autorização ministerial: Paulo defende o sustento dos que pregam (1 Coríntios 9), e a igreja reconhece líderes através de imposição de mãos (Atos 13:3), um gesto ligado à unção/consagração.

Tipos de unção (modo de ação)

1. Unção de escolha/consagração: separação para uma função (reis, sacerdotes, ministros).

2. Unção de capacitação: empowerment do Espírito para realizar tarefa (milagre, ensino, pastoreio).

3. Unção de cura e conforto: presença do Espírito que restaura e fortalece (Tiago 5).

4. Unção identitária: marca do crente selado pelo Espírito (Efésios 1:13; 1 João 2:20).

O que a unção não é (cautelas bíblicas)?

1. Unção não é fórmula mágica. A presença ou “ato de unção” não garante sucesso automático sem fé, obediência e trabalho.

2. Unção não substitui caráter. Ministério ungido exige santidade, transparência e responsabilidade.

3. Unção não é sinônimo de riqueza ou prosperidade automática. Interpretar unção como atalho financeiro é leitura reducionista e sujeita a abusos.

A unção na história da igreja e nas tradições cristãs

Ortodoxia e catolicismo: preservam ritos sacramentais (crisma/óleo do crisma) que articulam sacramentalmente a unção com a graça do Espírito e a missão apostólica.

Protestantismo histórico: recebeu a ideia da unção do Espírito, mas geralmente enfatizou pregadores como ungidos para a pregação da Palavra e a leitura das Escrituras.

Movimentos pentecostais e carismáticos: enfatizam experiências do Espírito, sinais de unção, manifestações carismáticas e prática de imposição de mãos e unção com óleo como expressões de capacitação e cura.

Como discernir e buscar a unção hoje (práticas bíblicas)?

Vida de oração e Palavra: a unção vem em contexto de intimidade com Deus (João 15; 1 João 2:27).

Arrependimento e santidade: a consagração do coração favorece a operação do Espírito.

Comunhão e autoridade eclesial: buscar a unção em comunidade, com supervisão eclesial e missão clara.

Serviço prático: muitas vezes a unção se manifesta quando servimos fielmente e somos enviados.

Discernimento e prova de frutos: avalie sinais, como amor, fruto do Espírito, edificação da igreja, e não apenas experiências emocionais.

Questões frequentes (FAQ rápidas)

A unção é sempre acompanhada de sinais sobrenaturais? Nem sempre. Às vezes é evidente por fruto maduro (sabedoria, poder para pregar, serviço fiel); outras vezes pode manifestar-se com sinais (cura, profecia), conforme a soberania de Deus.

Posso “pedir” unção? Sim: a Bíblia encoraja a oração por mais do Espírito (Lucas 11:13) e líderes são comumente ungidos mediante oração e imposição de mãos (Atos 13:2,3).

Unção e ordenação são a mesma coisa? Não exatamente. Ordenação é ato eclesial (institucional); a unção é ação divina que pode ocorrer durante ordenação, mas ultrapassa ritos humanos.

Conclusão: por que a unção importa para cristãos hoje

A unção bíblica aponta para algo central: Deus escolhe, separa e capacita pessoas para sua missão. No Antigo Testamento a unção confirma autoridade e consagração; no Novo Testamento ela se cumpre em Cristo e se manifesta pelo Espírito entre os crentes. Entender a unção nos ajuda a valorizar a dependência de Deus, a responsabilidade ética do ministério e a busca por frutos que edificam a igreja.

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