1 Então ouvia as palavras dos filhos de Labão, que diziam: Jacó tem tomado tudo o que era de nosso pai, e do que era de nosso pai fez ele toda esta glória.

2 Viu também Jacó o rosto de Labão, e eis que não era para com ele como anteriormente.

3 E disse o Senhor a Jacó: Torna-te à terra dos teus pais, e à tua parentela, e eu serei contigo.

4 Então mandou Jacó chamar a Raquel e a Lia ao campo, para junto do seu rebanho,

5 E disse-lhes: Vejo que o rosto de vosso pai não é para comigo como anteriormente; porém o Deus de meu pai tem estado comigo;

6 E vós mesmas sabeis que com todo o meu esforço tenho servido a vosso pai;

7 Mas vosso pai me enganou e mudou o salário dez vezes; porém Deus não lhe permitiu que me fizesse mal.

8 Quando ele dizia assim: Os salpicados serão o teu salário; então todos os rebanhos davam salpicados. E quando ele dizia assim: Os listrados serão o teu salário, então todos os rebanhos davam listrados.

9 Assim Deus tirou o gado de vosso pai, e deu-o a mim.

10 E sucedeu que, ao tempo em que o rebanho concebia, eu levantei os meus olhos e vi em sonhos, e eis que os bodes, que cobriam as ovelhas, eram listrados, salpicados e malhados.

11 E disse-me o anjo de Deus em sonhos: Jacó! E eu disse: Eis-me aqui.

12 E disse ele: Levanta agora os teus olhos e vê todos os bodes que cobrem o rebanho, que são listrados, salpicados e malhados; porque tenho visto tudo o que Labão te fez.

13 Eu sou o Deus de Betel, onde tens ungido uma coluna, onde me fizeste um voto; levanta-te agora, sai-te desta terra e torna-te à terra da tua parentela.

14 Então responderam Raquel e Lia e disseram-lhe: Há ainda para nós parte ou herança na casa de nosso pai?

15 Não nos considera ele como estranhas? Pois vendeu-nos, e comeu de todo o nosso dinheiro.

16 Porque toda a riqueza, que Deus tirou de nosso pai, é nossa e de nossos filhos; agora, pois, faze tudo o que Deus te mandou.

17 Então se levantou Jacó, pondo os seus filhos e as suas mulheres sobre os camelos;

18 E levou todo o seu gado, e todos os seus bens, que havia adquirido, o gado que possuía, que alcançara em Padã-Arã, para ir a Isaque, seu pai, à terra de Canaã.

19 E havendo Labão ido a tosquiar as suas ovelhas, furtou Raquel os ídolos que seu pai tinha.

20 E Jacó logrou a Labão, o arameu, porque não lhe fez saber que fugia.

21 E fugiu ele com tudo o que tinha, e levantou-se e passou o rio; e se dirigiu para a montanha de Gileade.

22 E no terceiro dia foi anunciado a Labão que Jacó tinha fugido.

23 Então tomou consigo os seus irmãos, e atrás dele seguiu o seu caminho por sete dias; e alcançou-o na montanha de Gileade.

24 Veio, porém, Deus a Labão, o arameu, em sonhos, de noite, e disse-lhe: Guarda-te, que não fales com Jacó nem bem nem mal.

25 Alcançou, pois, Labão a Jacó, e armara Jacó a sua tenda naquela montanha; armou também Labão com os seus irmãos a sua, na montanha de Gileade.

26 Então disse Labão a Jacó: Que fizeste, que me lograste e levaste as minhas filhas como cativas pela espada?

27 Por que fugiste ocultamente, e lograste-me, e não me fizeste saber, para que eu te enviasse com alegria, e com cânticos, e com tamboril e com harpa?

28 Também não me permitiste beijar os meus filhos e as minhas filhas. Loucamente agiste, agora, fazendo assim.

29 Poder havia em minha mão para vos fazer mal, mas o Deus de vosso pai me falou ontem à noite, dizendo: Guarda-te, que não fales com Jacó nem bem nem mal.

30 E agora se querias ir embora, porquanto tinhas saudades de voltar à casa de teu pai, por que furtaste os meus deuses?

31 Então respondeu Jacó, e disse a Labão: Porque temia; pois que dizia comigo, se porventura não me arrebatarias as tuas filhas.

32 Com quem achares os teus deuses, esse não viva; reconhece diante de nossos irmãos o que é teu do que está comigo, e toma-o para ti. Pois Jacó não sabia que Raquel os tinha furtado.

33 Então entrou Labão na tenda de Jacó, e na tenda de Lia, e na tenda de ambas as servas, e não os achou; e saindo da tenda de Lia, entrou na tenda de Raquel.

34 Mas tinha tomado Raquel os ídolos e os tinha posto na albarda de um camelo, e assentara-se sobre eles; e apalpou Labão toda a tenda, e não os achou.

35 E ela disse a seu pai: Não se acenda a ira aos olhos de meu senhor, que não posso levantar-me diante da tua face; porquanto tenho o costume das mulheres. E ele procurou, mas não achou os ídolos.

36 Então irou-se Jacó e contendeu com Labão; e respondeu Jacó, e disse a Labão: Qual é a minha transgressão? Qual é o meu pecado, que tão furiosamente me tens perseguido?

37 Havendo apalpado todos os meus móveis, que achaste de todos os móveis de tua casa? Põe-no aqui diante dos meus irmãos e de teus irmãos; e que julguem entre nós ambos.

38 Estes vinte anos eu estive contigo; as tuas ovelhas e as tuas cabras nunca abortaram, e não comi os carneiros do teu rebanho.

39 Não te trouxe eu o despedaçado; eu o pagava; o furtado de dia e o furtado de noite da minha mão o requerias.

40 Estava eu assim: De dia me consumia o calor, e de noite a geada; e o meu sono fugiu dos meus olhos.

41 Tenho estado agora vinte anos na tua casa; catorze anos te servi por tuas duas filhas, e seis anos por teu rebanho; mas o meu salário tens mudado dez vezes.

42 Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o temor de Isaque não fora comigo, por certo me despedirias agora vazio. Deus atendeu à minha aflição, e ao trabalho das minhas mãos, e repreendeu-te ontem à noite.

43 Então respondeu Labão, e disse a Jacó: Estas filhas são minhas filhas, e estes filhos são meus filhos, e este rebanho é o meu rebanho, e tudo o que vês, é meu; e que farei hoje a estas minhas filhas, ou a seus filhos, que deram à luz?

44 Agora pois vem, e façamos aliança eu e tu, que seja por testemunho entre mim e ti.

45 Então tomou Jacó uma pedra, e erigiu-a por coluna.

46 E disse Jacó a seus irmãos: Ajuntai pedras. E tomaram pedras, e fizeram um montão, e comeram ali sobre aquele montão.

47 E chamou-o Labão Jegar-Saaduta; porém Jacó chamou-o Galeede.

48 Então disse Labão: Este montão seja hoje por testemunha entre mim e ti. Por isso se lhe chamou Galeede,

49 E Mispá, porquanto disse: Atente o Senhor entre mim e ti, quando nós estivermos apartados um do outro.

50 Se afligires as minhas filhas, e se tomares mulheres além das minhas filhas, ninguém está conosco; atenta que Deus é testemunha entre mim e ti.

51 Disse mais Labão a Jacó: Eis aqui este mesmo montão, e eis aqui essa coluna que levantei entre mim e ti.

52 Este montão seja testemunha, e esta coluna seja testemunha, que eu não passarei este montão a ti, e que tu não passarás este montão e esta coluna a mim, para mal.

53 O Deus de Abraão e o Deus de Naor, o Deus de seu pai, julgue entre nós. E jurou Jacó pelo temor de seu pai Isaque.

54 E ofereceu Jacó um sacrifício na montanha, e convidou seus irmãos, para comer pão; e comeram pão e passaram a noite na montanha.

55 E levantou-se Labão pela manhã de madrugada, e beijou seus filhos e suas filhas e abençoou-os e partiu; e voltou Labão ao seu lugar.

1 Jacó, porém, ouviu falar que os filhos de Labão estavam dizendo: "Jacó tomou tudo que o nosso pai tinha e juntou toda a sua riqueza à custa do nosso pai".

2 E Jacó percebeu que a atitude de Labão para com ele já não era a mesma de antes.

3 E o Senhor disse a Jacó: "Volte para a terra de seus pais e de seus parentes, e eu estarei com você".

4 Então Jacó mandou chamar Raquel e Lia para virem ao campo onde estavam os seus rebanhos,

5 e lhes disse: "Vejo que a atitude do seu pai para comigo não é mais a mesma, mas o Deus de meu pai tem estado comigo.

6 Vocês sabem que trabalhei para seu pai com todo o empenho,

7 mas ele tem me feito de tolo, mudando o meu salário dez vezes. Contudo, Deus não permitiu que ele me prejudicasse.

8 Se ele dizia: ‘As crias salpicadas serão o seu salário’, todos os rebanhos geravam filhotes salpicados; e se ele dizia: ‘As que têm listras serão o seu salário’, todos os rebanhos geravam filhotes com listras.

9 Foi assim que Deus tirou os rebanhos de seu pai e os deu a mim.

10 "Na época do acasalamento, tive um sonho em que olhei e vi que os machos que fecundavam o rebanho tinham listras, eram salpicados e malhados.

11 O anjo de Deus me disse no sonho: ‘Jacó! ’ Eu respondi: ‘Eis-me aqui! ’

12 Então ele disse: ‘Olhe e veja que todos os machos que fecundam o rebanho têm listras, são salpicados e malhados, porque tenho visto tudo o que Labão lhe fez.

13 Sou o Deus de Betel, onde você ungiu uma coluna e me fez um voto. Saia agora desta terra e volte para a sua terra natal’ ".

14 Raquel e Lia disseram a Jacó: "Temos ainda parte na herança dos bens de nosso pai?

15 Não nos trata ele como estrangeiras? Não apenas nos vendeu como também gastou tudo o que foi pago por nós!

16 Toda a riqueza que Deus tirou de nosso pai é nossa e de nossos filhos. Portanto, faça tudo quanto Deus lhe ordenou".

17 Então Jacó ajudou seus filhos e suas mulheres a montar nos camelos,

18 e conduziu todo o seu rebanho, junto com todos os bens que havia acumulado em Padã-Arã, para ir à terra de Canaã, à casa de seu pai Isaque.

19 Enquanto Labão tinha saído para tosquiar suas ovelhas, Raquel roubou de seu pai os ídolos do clã.

20 Foi assim que Jacó enganou a Labão, o arameu, fugindo sem lhe dizer nada.

21 Ele fugiu com tudo o que tinha e, atravessando o Eufrates, foi para os montes de Gileade.

22 Três dias depois, Labão foi informado de que Jacó tinha fugido.

23 Tomando consigo os homens de sua família, perseguiu Jacó por sete dias e o alcançou nos montes de Gileade.

24 Então, de noite, Deus veio em sonho a Labão, o arameu, e o advertiu: "Cuidado! Não diga nada a Jacó, não lhe faça promessas nem ameaças".

25 Labão alcançou Jacó, que estava acampado nos montes de Gileade. Então Labão e os homens se acamparam ali também.

26 Ele perguntou a Jacó: "Que foi que você fez? Não só me enganou como também raptou minhas filhas como se fossem prisioneiras de guerra.

27 Por que você me enganou, fugindo em segredo, sem avisar-me? Eu teria celebrado a sua partida com alegria e cantos, ao som dos tamborins e das harpas.

28 Você sequer me deixou beijar meus netos e minhas filhas para despedir-me deles. Você foi insensato.

29 Tenho poder para prejudicá-los; mas, na noite passada, o Deus do pai de vocês me advertiu: ‘Cuidado! Não diga nada a Jacó, não lhe faça promessas nem ameaças’.

30 Agora, se você partiu porque tinha saudade da casa de seu pai, por que roubou meus deuses? "

31 Jacó respondeu a Labão: "Tive medo, pois pensei que você tiraria suas filhas de mim à força.

32 Quanto aos seus deuses, quem for encontrado com eles não ficará vivo. Na presença dos nossos parentes, veja você mesmo se está aqui comigo qualquer coisa que lhe pertença, e, se estiver, leve-a de volta". Ora, Jacó não sabia que Raquel os havia roubado.

33 Então Labão entrou na tenda de Jacó, e nas tendas de Lia e de suas duas servas, mas nada encontrou. Depois de sair da tenda de Lia, entrou na tenda de Raquel.

34 Raquel tinha colocado os ídolos dentro da sela do seu camelo e estava sentada em cima. Labão vasculhou toda a tenda, mas nada encontrou.

35 Raquel disse ao pai: "Não se irrite, meu senhor, por não poder me levantar em sua presença, pois estou com o fluxo das mulheres". Ele procurou os ídolos, mas não os encontrou.

36 Jacó ficou irado e queixou-se a Labão: "Qual foi meu crime? Que pecado cometi para que você me persiga furiosamente?

37 Você já vasculhou tudo o que me pertence. Encontrou algo que lhe pertença? Então coloque tudo aqui na frente dos meus parentes e dos seus, e que eles julguem entre nós dois.

38 "Vinte anos estive com você. Suas ovelhas e cabras nunca abortaram, e jamais comi um só carneiro do seu rebanho.

39 Eu nunca levava a você os animais despedaçados por feras; eu mesmo assumia o prejuízo. E você pedia contas de todo animal roubado de dia ou de noite.

40 O calor me consumia de dia, e o frio, de noite, e o sono fugia dos meus olhos.

41 Foi assim nos vinte anos em que fiquei em sua casa. Trabalhei para você catorze anos em troca de suas duas filhas e seis anos por seus rebanhos, e dez vezes você alterou o meu salário.

42 Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão, o Temor de Isaque, não estivesse comigo, certamente você me despediria de mãos vazias. Mas Deus viu o meu sofrimento e o trabalho das minhas mãos e, na noite passada, ele manifestou a sua decisão".

43 Labão respondeu a Jacó: "As mulheres são minhas filhas, os filhos são meus, os rebanhos são meus. Tudo o que você vê é meu. Que posso fazer por essas minhas filhas ou pelos filhos que delas nasceram?

44 Façamos agora, eu e você, um acordo que sirva de testemunho entre nós dois".

45 Então Jacó tomou uma pedra e a colocou de pé como coluna.

46 E disse aos seus parentes: "Juntem algumas pedras". Eles apanharam pedras e as amontoaram. Depois comeram ali, ao lado do monte de pedras.

47 Labão o chamou Jegar-Saaduta, e Jacó o chamou Galeede.

48 Labão disse: "Este monte de pedras é uma testemunha entre mim e você, no dia de hoje". Por isso foi chamado Galeede.

49 Foi também chamado Mispá, porque ele declarou: "Que o Senhor nos vigie, a mim e a você, quando estivermos separados um do outro.

50 Se você maltratar minhas filhas ou menosprezá-las, tomando outras mulheres além delas, ainda que ninguém saiba, lembre-se de que Deus é testemunha entre mim e você".

51 Disse ainda Labão a Jacó: "Aqui estão este monte de pedras e esta coluna que coloquei entre mim e você.

52 São testemunhas de que não passarei para o lado de lá para prejudicá-lo, nem você passará para o lado de cá para prejudicar-me.

53 Que o Deus de Abraão, o Deus de Naor, o Deus do pai deles, julgue entre nós". Então Jacó fez um juramento em nome do Temor de seu pai Isaque.

54 Ofereceu um sacrifício no monte e chamou os parentes que lá estavam para uma refeição. Depois de comerem, passaram a noite ali.

55 Na manhã seguinte, Labão beijou seus netos e suas filhas e os abençoou, e depois voltou para a sua terra.

Jacó volta para a terra de seus pais

1 Jacó ouvia os comentários dos filhos de Labão, que diziam:

— Jacó se apossou de tudo o que era de nosso pai. Ele juntou toda essa riqueza a partir do que era de nosso pai.

2 Jacó, por sua vez, reparou que o rosto de Labão não lhe era favorável como anteriormente. 3 E o Senhor disse a Jacó:

— Volte para a terra de seus pais e para a sua parentela; e eu estarei com você.

4 Então Jacó mandou vir Raquel e Lia ao campo, para junto do seu rebanho, 5 e lhes disse:

— Vejo que o rosto do pai de vocês não me é favorável como anteriormente; porém o Deus de meu pai tem estado comigo. 6 Vocês mesmas sabem que com todo empenho tenho trabalhado para o pai de vocês, 7 mas ele me tem enganado e por dez vezes mudou o meu salário; porém Deus não permitiu que ele me prejudicasse. 8 Se ele dizia: "Os salpicados serão o seu salário", então todos os rebanhos davam salpicados; e, se ele dizia: "Os listrados serão o seu salário", então os rebanhos todos davam listrados. 9 Assim, Deus tirou o gado do pai de vocês e o deu a mim.

10 — Pois, chegado o tempo em que os animais acasalavam, levantei os olhos e vi em sonhos que os machos que cobriam as ovelhas eram listrados, salpicados e malhados. 11 E o Anjo de Deus me disse em sonho: "Jacó!" E eu respondi: "Eis-me aqui!" 12 Ele continuou: "Levante agora os olhos e veja que todos os machos que cobrem o rebanho são listrados, salpicados e malhados, porque vejo tudo o que Labão está fazendo com você. 13 Eu sou o Deus de Betel, onde você ungiu uma coluna, onde me fez um voto. Levante-se agora, saia desta terra e volte para a terra de sua parentela."

14 Então Raquel e Lia disseram:

— Será que ainda existe para nós parte ou herança na casa de nosso pai? 15 Não é verdade que ele nos considera como estrangeiras? Pois nos vendeu e consumiu tudo o que nos era devido. 16 Porque toda a riqueza que Deus tirou de nosso pai é nossa e de nossos filhos; agora, pois, faça tudo o que Deus pediu que você fizesse.

17 Então Jacó se levantou e, fazendo montar seus filhos e suas mulheres em camelos, 18 levou todo o seu gado e todos os seus bens que chegou a possuir, o gado de sua propriedade que havia acumulado em Padã-Arã, para ir a Isaque, seu pai, à terra de Canaã. 19 Enquanto Labão tinha ido fazer a tosquia das ovelhas, Raquel roubou os ídolos do lar que pertenciam a seu pai. 20 E Jacó enganou Labão, o arameu, não revelando que tinha planos de fugir. 21 E fugiu com tudo o que lhe pertencia. Levantou-se, passou o Eufrates e tomou o rumo dos montes de Gileade.

Labão segue no encalço de Jacó

22 No terceiro dia, Labão foi avisado de que Jacó ia fugindo. 23 Reuniu os seus parentes e saiu no encalço de Jacó, por sete dias de viagem, e o alcançou nos montes de Gileade. 24 De noite, porém, Deus veio em sonhos a Labão, o arameu, e lhe disse:

— Cuidado! Não fale a Jacó nem bem nem mal.

25 Labão alcançou Jacó. Este havia armado a sua tenda naqueles montes. Também Labão armou a sua tenda com os seus parentes, nos montes de Gileade. 26 E Labão disse a Jacó:

— Que foi que você fez? Você me enganou e levou as minhas filhas como se fossem prisioneiras de guerra. 27 Por que você fugiu em segredo, e me enganou, e não me disse nada? Eu o teria despedido com alegria, com cânticos, com tamborins e com harpa. 28 E por que não permitiu que eu beijasse meus netos e minhas filhas? Nisso você agiu como um tolo. 29 Tenho em minhas mãos poder para fazer mal a vocês, mas ontem à noite o Deus do pai de vocês me falou e disse: "Cuidado! Não fale a Jacó nem bem nem mal." 30 E agora que você partiu de vez, pois está com saudades da casa de seu pai, por que roubou os meus deuses?

31 Jacó respondeu:

— Porque tive medo. Pensei assim: para que não aconteça que me tome à força as suas filhas. 32 Que seja morto aquele com quem o senhor achar os seus deuses. Na presença de nossos parentes, verifique o que pertence ao senhor e, se estiver comigo, pode levar embora.

Acontece que Jacó não sabia que Raquel os havia roubado.

33 Labão entrou na tenda de Jacó, na tenda de Lia e na tenda das duas servas, mas não achou nada. Tendo saído da tenda de Lia, entrou na tenda de Raquel. 34 Ora, Raquel havia pegado os ídolos do lar e, depois de colocá-los na sela de um camelo, estava sentada sobre eles. Labão apalpou toda a tenda e não os achou. 35 Então Raquel disse ao pai:

— Não fique zangado, meu senhor, por eu não poder me levantar na sua presença, pois estou no meu período menstrual.

Ele procurou, mas não encontrou os ídolos do lar.

36 Então Jacó ficou zangado e discutiu com Labão. Dirigiu-se a Labão, dizendo:

— Qual é a minha transgressão? Qual o meu pecado, para o senhor me perseguir com tanta fúria? 37 Havendo apalpado todos os meus utensílios, quais foram os utensílios de sua casa que o senhor encontrou? Coloque-os aqui diante dos meus parentes e dos seus parentes, para que julguem entre nós dois. 38 Vinte anos eu estive com o senhor. As suas ovelhas e as suas cabras nunca perderam as crias, e não comi um só carneiro do seu rebanho. 39 Não lhe apresentei os animais que eram despedaçados pelas feras; assumi o prejuízo. Da minha mão o senhor o requeria, tanto o roubado de dia como de noite. 40 De maneira que eu andava, de dia consumido pelo calor, de noite, pela geada; e o meu sono me fugia dos olhos. 41 Vinte anos permaneci em sua casa. Catorze anos trabalhei para o senhor pelas suas duas filhas e seis anos trabalhei para conseguir o seu rebanho; dez vezes o senhor mudou o meu salário. 42 Se não fosse o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o Temor de Isaque, por certo o senhor me despediria agora de mãos vazias. Mas Deus viu o meu sofrimento e o trabalho das minhas mãos e ontem à noite ele repreendeu o senhor.

A aliança entre Labão e Jacó

43 Então Labão respondeu a Jacó:

— As filhas são minhas filhas, os filhos são meus netos, os rebanhos são meus rebanhos, e tudo o que você está vendo é meu. Que posso fazer hoje a estas minhas filhas ou aos filhos que elas deram à luz? 44 Venha, pois, e façamos uma aliança, eu e você, que sirva de testemunho entre mim e você.

45 Então Jacó tomou uma pedra e a erigiu por coluna. 46 E disse aos seus parentes:

— Ajuntem pedras.

Eles foram ajuntar pedras e fizeram um montão, ao lado do qual comeram. 47 Labão deu-lhe o nome de Jegar-Saaduta, mas Jacó lhe chamou Galeede. 48 E Labão disse:

— Seja hoje este montão de pedras por testemunha entre mim e você.

Por isso foi chamado de Galeede 49 e Mispa, pois disse:

— Que o Senhor vigie entre mim e você e nos julgue quando estivermos separados um do outro. 50 Se você maltratar as minhas filhas e tomar outras mulheres além delas, não estando ninguém conosco, lembre-se de que Deus é testemunha entre mim e você.

51 E Labão continuou:

— Eis aqui este montão de pedras e esta coluna que levantei entre mim e você. 52 Seja o montão testemunha, e seja a coluna testemunha de que para mal não passarei para o lado de lá do montão e você não passará para o lado de cá do montão e da coluna. 53 O Deus de Abraão e o Deus de Naor, o Deus do pai deles, julgue entre nós.

E Jacó jurou pelo Temor de Isaque, seu pai. 54 E Jacó ofereceu um sacrifício na montanha e convidou seus parentes para uma refeição. Eles comeram e passaram a noite na montanha.

55 Na manhã seguinte, Labão se levantou de madrugada, beijou os seus netos e as suas filhas e os abençoou. E, partindo, voltou para a sua casa.

Jacó foge de Labão

1 Logo, porém, Jacó percebeu que os filhos de Labão estavam reclamando dele: "Jacó roubou tudo que era de nosso pai! À custa de nosso pai, adquiriu toda a sua riqueza!". 2 Jacó também começou a notar uma mudança na atitude de Labão para com ele.

3 Então o Senhor disse a Jacó: "Volte para a terra de seu pai e de seu avô, a terra de seus parentes, e eu estarei com você".

4 Jacó mandou chamar Raquel e Lia ao campo onde ele cuidava de seus rebanhos 5 e disse a elas: "Notei que seu pai mudou de atitude em relação a mim. O Deus de meu pai, porém, tem estado comigo. 6 Vocês sabem como tenho trabalhado arduamente a serviço de seu pai. 7 Contudo, ele me enganou e mudou meu salário dez vezes. Mas Deus não permitiu que ele me prejudicasse. 8 Se ele dizia: ‘Os salpicados serão o seu salário’, o rebanho começava a dar crias salpicadas. E, quando mudava de ideia e dizia: ‘Os listrados serão o seu salário’, então o rebanho inteiro dava crias listradas. 9 Desse modo, Deus tirou os animais de seu pai e os deu a mim.

10 "Certa vez, na época do acasalamento, tive um sonho e vi que os bodes que se acasalavam com as cabras eram listrados, salpicados e malhados. 11 Então, em meu sonho, o anjo de Deus me disse: ‘Jacó!’. E eu respondi: ‘Aqui estou!’.

12 "E o anjo disse: ‘Levante os olhos e você verá que apenas os machos listrados, salpicados e malhados estão se acasalando com as fêmeas de seu rebanho, pois vejo como Labão tem tratado você. 13 Eu sou o Deus que lhe apareceu em Betel, o lugar onde você ungiu a coluna de pedra e fez seu voto a mim. Agora, apronte-se, saia desta terra e volte à sua terra natal’".

14 Raquel e Lia responderam: "Da nossa parte, tudo bem! Afinal, não herdaremos coisa alguma da riqueza de nosso pai. 15 Ele reduziu nossos direitos aos mesmos que têm as mulheres estrangeiras. Depois que nos vendeu, desperdiçou todo o dinheiro que você pagou por nós. 16 Toda a riqueza que Deus tirou de nosso pai e deu a você é, por direito, nossa e de nossos filhos. Por isso, faça o que Deus ordenou".

17 Então Jacó montou suas mulheres e seus filhos em camelos 18 e conduziu adiante todos os seus rebanhos. Juntou todos os bens que havia adquirido em Padã-Arã e partiu para a terra de Canaã, onde vivia Isaque, seu pai. 19 Quando partiram, Labão estava num lugar afastado, tosquiando suas ovelhas. Raquel roubou os ídolos da casa que pertenciam a seu pai e os levou consigo. 20 Assim, Jacó enganou Labão, o arameu, partindo sem avisá-lo de que iam embora. 21 Jacó levou todos os seus bens e atravessou o rio Eufrates, rumo à região montanhosa de Gileade.

Conflito entre Labão e Jacó

22 Três dias depois, Labão foi informado de que Jacó havia fugido. 23 Reuniu um grupo de parentes e saiu em perseguição a Jacó. Sete dias depois o alcançou, na região montanhosa de Gileade. 24 Na noite anterior, porém, Deus havia aparecido em sonho a Labão, o arameu, e dito a ele: "Estou avisando: deixe Jacó em paz!".

25 Labão o alcançou enquanto Jacó estava acampado na região montanhosa de Gileade e armou seu acampamento ali perto. 26 "O que você fez?", perguntou Labão. "Como ousou me enganar e levar minhas filhas embora, como se fossem prisioneiras de guerra? 27 Por que fugiu em segredo? Por que me enganou? E por que não avisou que desejava partir? Eu lhe teria dado uma festa de despedida, com canções e música, ao som de tamborins e harpas. 28 Por que não me deixou beijar minhas filhas e meus netos e me despedir deles? Você agiu de forma extremamente tola! 29 Eu poderia destruí-lo, mas o Deus de seu pai me apareceu ontem à noite e me advertiu: ‘Deixe Jacó em paz!’. 30 Entendo sua vontade de partir e seu desejo de voltar à casa de seu pai. Mas por que roubou meus deuses?"

31 Jacó respondeu: "Fugi porque tive medo. Pensei que o senhor tiraria suas filhas de mim à força. 32 Quanto a seus deuses, veja se consegue encontrá-los, e quem os tiver roubado deve morrer! Se encontrar qualquer outra coisa que lhe pertença, identifique-a diante de todos estes nossos parentes, e eu a devolverei". Jacó, porém, não sabia que Raquel havia roubado os ídolos da casa.

33 Labão foi procurar primeiro na tenda de Jacó e, depois, nas tendas de Lia e das duas servas, mas nada encontrou. Por fim, entrou na tenda de Raquel. 34 Acontece que Raquel havia pego os ídolos da casa e os escondido na sela do seu camelo, e estava sentada em cima deles. Quando Labão terminou de vasculhar toda a sua tenda sem encontrar os ídolos, 35 Raquel disse ao pai: "Por favor, perdoe-me por não me levantar para o senhor, mas estou em meu período menstrual". Labão continuou a busca, mas não encontrou os ídolos da casa.

36 Jacó se enfureceu e discutiu com Labão. "Qual foi o meu crime?", perguntou ele. "O que fiz de errado para o senhor me perseguir como se eu fosse um criminoso? 37 O senhor vasculhou todos os meus bens. Por acaso encontrou algum objeto que lhe pertença? Coloque-o aqui, diante de nossos parentes, para que todos vejam. Que eles julguem entre nós dois!

38 "Estive vinte anos com o senhor, cuidando de seus rebanhos. Ao longo de todo esse tempo, suas ovelhas e cabras nunca abortaram. Não me servi de um carneiro sequer de seu rebanho para alimento. 39 Quando algum deles era despedaçado por um animal selvagem, eu nunca lhe mostrava a carcaça. Não, eu mesmo arcava com o prejuízo! O senhor me obrigava a pagar por todo animal roubado, quer à plena luz do dia, quer na escuridão da noite.

40 "Trabalhei para o senhor em dias de calor escaldante e também em noites frias e insones. 41 Sim, por vinte anos trabalhei feito um escravo em sua casa! Trabalhei catorze anos por suas duas filhas e, depois, mais seis anos para formar meu rebanho. E dez vezes o senhor mudou meu salário. 42 De fato, se o Deus de meu pai não estivesse comigo, o Deus de Abraão e o Deus temível de Isaque, o senhor teria me mandado embora de mãos vazias. Mas Deus viu como fui maltratado, apesar de meu árduo trabalho. Por isso ele lhe apareceu na noite passada e o repreendeu!"

O acordo entre Labão e Jacó

43 Labão respondeu a Jacó: "Essas mulheres são minhas filhas, as crianças são meus netos, e os rebanhos são meus rebanhos. Na verdade, tudo que você vê é meu. Mas o que posso fazer agora por minhas filhas e pelos filhos delas? 44 Façamos, portanto, você e eu, uma aliança que sirva de testemunho do nosso compromisso".

45 Então Jacó pegou uma pedra e a colocou em pé como monumento. 46 Em seguida, disse aos membros de sua família: "Juntem algumas pedras". Eles pegaram as pedras e as amontoaram. Jacó e Labão se sentaram perto do monte de pedras e fizeram uma refeição para selar a aliança. 47 A fim de comemorar a ocasião, Labão chamou o lugar de Jegar-Saaduta, e Jacó o chamou de Galeede.

48 Labão declarou: "Este monte de pedras servirá de testemunha para nos lembrar da aliança que fizemos hoje". Isso explica por que o lugar foi chamado de Galeede. 49 Também foi chamado de Mispá, pois Labão disse: "Vigie o Senhor a você e a mim para garantir que guardaremos esta aliança quando estivermos longe um do outro. 50 Se você maltratar minhas filhas ou se casar com outras mulheres, mesmo que ninguém mais veja, Deus verá. Ele é testemunha desta aliança entre nós."

51 "Veja este monte de pedras", prosseguiu Labão. "Veja também este monumento que levantei entre nós dois. 52 Estão entre mim e você como testemunhas dos nossos votos. Nunca atravessarei para o lado de lá do monte de pedras a fim de prejudicá-lo, e você jamais deve atravessar para o lado de cá a fim de prejudicar-me. 53 Invoco o Deus de nossos antepassados, o Deus de seu avô Abraão e o Deus de meu avô Naor, para que sirva de juiz entre nós."

Assim, diante do Deus temível de seu pai Isaque, Jacó jurou respeitar a linha divisória. 54 Então Jacó ofereceu sacrifício a Deus na montanha e convidou todos para a refeição comemorativa. Depois de comerem, passaram a noite ali.

55 Na manhã seguinte, Labão se levantou cedo, beijou seus netos e suas filhas e os abençoou. Depois, partiu e voltou para casa.