1 Como é frágil o ser humano- são bem poucos os seus dias e bem cheiosde inquietação!

2 Desabrocha por um momento, como uma flor - e logo seca; como a sombra fugitiva duma nuvem que o vento sopra,também ele desaparece num instante. Terás mesmo que ser assim tão ásperopara com os fracos humanose trazê-los a julgamento?

6 Por isso, dá-lhe um pouco de descanso, peço-te. Desvia dele a tua zangae permite que tenha ainda alguns momentos de repouso antes de morrer.

7 Até para uma planta há esperança- se lhe cortarem um ramo ainda pode dar rebentos e florescer;

8 mesmo quando as raízes começam a envelhecer, debaixo da terra,e o caule fica menos tenso,

9 é capaz ainda de se renovar, se for regada,à semelhança duma planta nova.

10 Mas quando uma pessoa morre e a enterram, dá o último suspiro,e que fica dele?

13 Oh, se me escondesses na região da morte e lá me deixasses esquecidoaté que a tua ira tivesse acabado, e tivesses um momento determinadoem que tornasses a lembrar-te de mim!

14 Se um indivíduo morre, voltará à vida? Este pensamento aliás dá-me esperança, de tal forma que, na minha angústia toda,desejo que isto acabe!

15 Chamar-me-ias, eu te responderia acorrendo à tua presençae recompensar-me-ias de tudo o que fiz.

16 Observarias todos os meus actose não tomarias em conta as minhas falhas.

17 Arquivarias o processo que serviria para me condenar.

18 As colinas podem desfazer-se e desaparecer.

19 A erosão da água sobre as rochas fá-las em areia,e a sua força altera a superfície do solo. Da mesma forma toda a esperança dos homens se esvai.

20 Fazes deles gente velha e enrugada, e depois manda-los embora.

21 Nunca chega a saber se os seus filhos são honrados pela sociedade,ou antes se decaiem e se arruinam.

22 Para ele há apenas tristeza e sofrimento.

Jó roga o favor de Deus por causa da brevidade e miséria da vida humana

1 O homem, nascido da mulher, é de bem poucos dias e cheio de inquietação. 2 Sai como a flor e se seca; foge também como a sombra e não permanece. 3 E sobre este tal abres os teus olhos, e a mim me fazes entrar em juízo contigo. 4 (Quem do imundo tirará o puro? Ninguém!) 5 Visto que os seus dias estão determinados, contigo está o número dos seus meses; e tu lhe puseste limites, e não passará além deles. 6 Desvia-te dele, para que tenha repouso, até que, como o jornaleiro, tenha contentamento no seu dia.

7 Porque há esperança para a árvore, que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos. 8 Se envelhecer na terra a sua raiz, e morrer o seu tronco no pó, 9 ao cheiro das águas, brotará e dará ramos como a planta. 10 Mas, morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito, então, onde está? 11 Como as águas se retiram do mar, e o rio se esgota e fica seco, 12 assim o homem se deita e não se levanta; até que não haja mais céus, não acordará, nem se erguerá de seu sono. 13 Tomara que me escondesses na sepultura, e me ocultasses até que a tua ira se desviasse, e me pusesses um limite, e te lembrasses de mim! 14 Morrendo o homem, porventura, tornará a viver? Todos os dias de meu combate esperaria, até que viesse a minha mudança. 15 Chamar-me-ias, e eu te responderia; afeiçoa-te à obra de tuas mãos. 16 Mas agora contas os meus passos; não estás tu vigilante sobre o meu pecado? 17 A minha transgressão está selada num saco, e amontoas as minhas iniquidades. 18 E, na verdade, caindo a montanha, desfaz-se; e a rocha se remove do seu lugar. 19 As águas gastam as pedras; as cheias afogam o pó da terra; e tu fazes perecer a esperança do homem. 20 Tu para sempre prevaleces contra ele, e ele passa; tu, mudando o seu rosto, o despedes. 21 Os seus filhos estão em honra, sem que ele o saiba; ou ficam minguados, sem que ele o perceba; 22 mas a sua carne, nele, tem dores; e a sua alma, nele, lamenta.